Mistério em texto
04/06/12 13:05Estava há tempos enrolando para jogar “1893: A World’s Fair Mistery”. Quase dez anos, na verdade (o lançamento é de 2003). Sem problemas: inteiramente composto de texto e fotos, “1893” não envelheceu um dia.
Uma das minhas primeiras colunas para o Tec já foi sobre adventures de texto, especificamente os lançados pela Infocom durante a década de 80. Alguns dos jogos mais brilhantes que conheço foram feitos nessa época: “Planetfall”, “A Mind Forever Voyaging”, “Zork 2” etc. Mas é óbvio que, comercialmente, o gênero deixou de fazer sentido. Embora ainda exista uma produção considerável, os jogos costumam ser gratuitos e voltados à pequena comunidade em torno deles.
De modo que fiquei espantado em saber que o autor, Peter Napsted, estava cobrando vinte dinheiros pelo jogo. Mas oquei, acho justo, ainda mais tendo em vista o volume de texto e pesquisa envolvido em “World’s Fair Mistery“. Claro que, dois dias depois de fazer o pagamento (e ainda tendo que esperar o jogo pelo correio), ele foi incluído no Adventure Bundle da vez. Se você correr, pode levar “World’s Fair Mistery” por noventa e nove centavos, além de baixá-lo na hora. E recebe ainda “Gemini Rue”, um dos meus adventures recentes favoritos, e outros três jogos que não conheço (“The Sea Will Claim Everything” foi razoavelmente elogiado).
Se você tem qualquer interesse por ficção interativa, não hesite. “World’s Fair Mistery” vale bem seus vinte dinheiros. O objetivo do jogo é resgatar oito diamantes que foram roubados da Feira Mundial de Chicago, em 1893. As feiras mundiais eram grandes acontecimentos no século 19 e no início do 20. Cientistas e pesquisadores do mundo inteiro levavam suas invenções e descobertas, que eram expostas literalmente a milhões de pessoas. A feira de Chicago, em específico, é também um dos temas de Contra o dia, romance muito bom que editei na Cia. das Letras.
Você controla um detetive particular, contratado por um velho amigo que é chefe de segurança da feira. Os oito diamantes podem ser resgatados em qualquer ordem, mas há um limite de cinco dias. O grande barato, no entanto, está em andar pelos pavilhões. Para além de encontrar pistas e suspeitos, você vai se deparar com uma montanha de informações que não exercem nenhum efeito sobre a trama. A ideia é tornar o giro pela feira em algo absolutamente autêntico. Assim, é possível se perder por horas a fio em estandes, demonstrações e conversas. O jogo exige ainda que você se alimente e descanse, então é preciso planejar rotas e traçar mapas. Aliás, é praticamente impossível jogar sem desenhar um mapa ao mesmo tempo. O guia que acompanha “World’s Fair Mistery” é propositalmente vago, indicando apenas os pavilhões. Caberá a você tomar nota de cada sala, dos indícios do crime e dos quebra-cabeças.
Na primeira passada, consegui apenas quatro dos diamantes. Alguns eventos ocorrem em horários específicos, e também é preciso estar atento aos intervalos entre as demonstrações. Com um mapa razoável em mãos, acho que agora será mais fácil encontrar os outros. Se não, vale pela visita.
Quem quiser saber mais sobre adventures de texto pode assistir ao documentário “GET LAMP“, do historiador da internet Jason Scott. Não acho o melhor filme dele (que é “BBS: The Documentary“), mas dá para ter uma ideia da febre que foi o gênero. Aliás, todos os jogos da Infocom estão disponíveis aqui. Lembrando que sempre é bom ler os manuais e encartes que acompanhavam as caixas (os chamados “feelies”).
If I were in my boyhood days, I would say: Scobydoo, where are you ? Coontiiii, where are you ???
RIGHT HERE. Hahaha. Just a sec, on it: right now.
8 days without Conti: this is the REAL mistery ….
Esses eram os tipos de jogos que nos faziam aprender inglês antes de qualquer um na escola. Quem não os jogava com um dicionário inglês-português do lado e entendia “vagamente” o sentido das frases?
E foi assim que aprendi inglês básico 😛
Hahaha acabo de “ter” o seguinte dialogo em Planetfall:
Eu: Enter
Ele: I beg your pardon?
Eu: Open
Ele: What do you want to open?
Eu: Open the door
Ele: Why open the emergency door if there is no emergency?
Muito bom. Nem em Halo 35 ou na continuação de Diablo que vai sair daqui a 17 anos da pra ter um momento desses.
Que otimo isso. Numa época em que o que mais vende e é incensado pela imprensa são jogos de tiro online ou jogos de monstro online, um jogo recente que é puro texto e fotos. Por coisas assim não acredito nessas conversas do “acabou”: o cinema acabou, a arte acabou, a literatura acabou. As coisas nao acabam, so mudam de forma.
Muito bacana. Eu tinha um “aventura texto” chamado Demon´s Tomb, conhece? Que tal um top 10 de adventures texto? Abraço!