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por André Conti

Perfil O jornalista André Conti é editor de quadrinhos da Companhia das Letras e colunista da Folha

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Shenmue

Por André Conti
20/03/12 21:14

Li no Joystiq esses dias que a Sega estaria guardando na gaveta versões remasterizadas de “Shenmue I” e “Shenmue II”, de Dreamcast. Embora seja um rumor, a notícia faz sentido: há pouco tempo, outros jogos de Dreamcast foram relançados para Xbox 360, e uma versão em HD do clássico “Jet Set Radio” está a caminho da Live e da PSN.

Ainda assim, só acredito vendo. Há uns anos, comprei um Dreamcast usado só para jogar “Shenmue”. Passei meses no Ebay até encontrar os dois jogos originais, naquele disco infecto da Sega de 1GB. Por colecionismo (e frescura), fui atrás de “Shenmue II” para Xbox. E ainda descolei um adaptador que liga o Dreamcast em monitores VGA, por conta do incremento nos gráficos. Ou seja.

Na verdade, eu estava tentando jogar “Shenmue” desde o lançamento, mas tinha perdido meu Dreamcast pouco antes, num escambo que acabou se provando bastante desvantajoso. Na época, fiquei com a impressão de que tinha caído em outro SegaCD e quis me livrar do DC, antes de saber que Yu Suzuki estava trabalhando num projeto nababesco para a plataforma.

Suzuki já era uma lenda dos fliperamas, pioneiro das cabines sofisticadas (com motos, manches etc.)  e pai de clássicos como “Afterburner”, “Hang-On”, “Out Run”, “Space Harrier”, “Virtua Fighter” e “Daytona USA” (sabidamente o melhor jogo de corrida de todos os tempos). Quando foi encarregado de criar o que seria o carro-chefe do Dreamcast, recebeu da Sega o maior orçamento que um jogo já havia tido na história. E fez “Shenmue”.

O projeto era apropriadamente ambicioso. Uma cidade aberta, com dezenas de habitantes para se conversar, todos levando suas rotinas, fazendo compras, saindo para comer etc. Inúmeros estabelecimentos frequentáveis, vários deles sem nenhuma utilidade para a trama. Um sistema que emulava variações climáticas e a passagem do tempo. Tudo muito inédito para a época, claro. Mas a ambição maior (e, acho eu, bem sucedida) era proporcionar um tipo de imersão desconhecido até ali.

Por conta do grau de liberdade, à época Suzuki batizou esse gênero de “FREE” (Full Reactive Eyes Entertainment). Todavia, embora tenha algumas partes de ação e não seja estritamente um jogo de quebra-cabeças, “Shenmue” é sobretudo um adventure. Puxando um pouco, talvez o mais bem realizado dos adventures. Não que seja o melhor.

 

Num adventure clássico, o cenário é estático (os mesmos personagens estarão lá até que você resolva um determinado ponto do jogo, por exemplo). Todo o resto é ilusionismo: as pessoas com quem você não pode conversar, mas que servem para dar vida a um local, as casas que você não pode entrar, a ideia de um mundo vasto (se olharmos os cenários) mas restrito (porque toda interação se limita a impelir o jogo à frente). Um pouco disso se deu por limitações tecnológicas. Mas também faz parte do acordo que travamos ao jogar um adventure: o tempo não acontece, a situação que bloqueia seu caminho estará lá até que você a resolva. Quando o tempo se torna um fator do jogo — em “The Last Express“, por exemplo —, é sempre como algo a ser batido, um limite.

Em “Shenmue”, o tempo corre vagarosamente. A caminhada de casa até a cidade, as ruas ficando mais movimentadas, o sujeito que almoça todos os dias na mesma pracinha. Para desvendar o assassinato do pai, o protagonista Ryo Hazuki passará por todo o corolário dos adventures: coletar pistas, juntar peças, interrogar suspeitos. Mas a vida da cidade independe dele. Se você precisa conversar com uma gangue de motoqueiros, por exemplo, terá de fazer hora no centro: os bares só abrem às sete. Como gastar esse tempo livre é decisão sua. Você pode sair conversando, descobrir a história do lugar e das pessoas. Ou jogar fliperama, treinar, encontrar conhecidos. As pistas e caminhos que se abrem nem sempre levam à trama principal, mas de alguma forma individualizam sua relação com a cidade, o protagonista e a narrativa. Ou seja, tudo que o adventure clássico finge que é (e que você finge que acredita).

Não é um jogo perfeito. Dá para notar que ele foi encurtado em algumas partes (um capítulo que se passaria numa viagem de barco foi resumido num gibi que acompanha a versão de XBox), e aqui e ali o sistema fica artificial. Mas até hoje não há nada parecido.

A terceira parte foi cancelada por conta das vendas baixas em relação ao custo, e a trama ficou sem um final. Segundo o rumor, a Sega estaria decidindo se conclui a série (e por isso segurou as versões remasterizadas). A ver.

 

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Comentários

  1. Raphael comentou em 26/03/12 at 2:51 pm

    O lance do tempo não passar enquanto o jogador não move a história é mesmo a pior parte de muitos games. Não tenho o console para jogar esse. Mas os gráficos são bem bacanas considerando as limitações da época. Imagino como não deve ser bacana poder interagir com um mundo simulado a esse nível.

  2. Nelson Henrique comentou em 23/03/12 at 10:05 am

    André, gostei muito do seu texto sobre Shenmue, ele realmente consegue nos passar o que acontecia no jogo. Pra mim foi uma experiência inigualável na época, passei alguns meses jogando a saga de Ryo Hazuki e me senti muito recompensado no fim. Você realmente parecia estar na pele dele. Pena que a Sega não tem mais ousadia pra fazer títulos como esses. Espero sempre por dias melhores da minha produtora de games favorita.

  3. Jorge comentou em 22/03/12 at 4:48 pm

    Olá André, muito legal o post sobre Shenmue. Fui jogador de adventures tardios (Phantasmagoria, Timelapse) e nos anos 2000 migrei p/ os consoles em busca de paz na terra das configurações, porém o panorama era o de um deserto no gênero. Até ter jogado Shenmue. A sensação de imersão não é decerto incomum p/ um gamer, mas nunca havia experimentado nada igual. Ainda hoje lembro como se fosse parte da realidade ter andado por Yokosuka e Dobuita, e depois por Wan Chai e Kowloon. Um jogo grandioso e c/ defeitos, claro, mas por nunca ter experimentado nada igual (algo próximo em Oblivion, e no execrado porém divertido Two Worlds, talvez, mas de outra natureza) segue sendo um dos meus jogos preferidos de sempre. []s!

  4. Carlos Augusto comentou em 22/03/12 at 12:19 pm

    Nossa, que surpresa agradável vê-lo falando do Shenmue! Lembro-me de ter ficado bastante impressionado quando o jogo saiu. A ideia de ser “livre para fazer o que quiser” era muito chamativa, concorda? Acho triste que a série tenha vendido pouco e espero realmente que a Sega não ignore os fãs do game deixando-os órfãos sem a conclusão da saga.
    Enfim, muito bom você falar dele. Acredito que seja um jogo subestimado, até porque não é “para qualquer um”, mas não deve ser ignorado de maneira alguma. Recomendo-o fortemente!

    Also, se alguém quiser dar uma conferida, há este playthrough aqui: http://www.youtube.com/playlist?list=PL8DF4D0C9B23EE09F&feature=plcp

  5. J. Lourenço comentou em 21/03/12 at 7:14 pm

    Taí um jogo que eu sempre quis jogar. André, vc acha que vale a pena jogar o 1 e o 2 mesmo sem previsão de sair o 3?? Não rola aquele sentimento de frustração por não saber o fim?
    Parabéns pelo Blog. Acabei de descobri-lo, e pretendo acompanhá-lo.

    • André Conti comentou em 21/03/12 at 11:36 pm

      Vale sim, sem dúvida. Sobre o final, paciência, mas o bacana é o jogo em si.

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